domingo, 6 de dezembro de 2009

O dia em que me casei no Cristo Redentor - para corações fortes

Quando vi a trabalheira que foi o casamento do meu irmão, em dezembro de 1998, eu decidi que não iria passar por aquilo também. Além de ser muito dispendioso e estressante, havia o cococó, designação que dou para aquelas coisinhas tradicionais as quais desgosto, e a diversidade de detalhes sempre me fizeram crer que esse negócio não era para mim.

E meu irmão começou a se preparar quase um ano antes.

Alguém me explica, então, o que deu na minha cabeça para encarar isso tudo e ainda por cima com a organização sendo feito à distância com pouco mais de três meses para preparar tudo?

Eu devia estar maluca!

Como permitiram?

Cadê os amigos numa hora dessa? E a família que não viu que era loucura?

A todos, meus mais sinceros agradecimentos por não terem mandado me internar.

Foi a loucura mais inesquecível da minha vida!

Apesar de todas as pedras no caminho...

Os preparativos

Para que nada desse errado, a gente tentou se cercar de todas as certezas. Vimos toda a questão de papelada assim que nos decidimos por encarar o casório no Corcovado. Como a cerimônia religiosa não ia ter efeito civil, tínhamos que resolver logo as pendências para o Casamento Civil aqui em Pernambuco.

Como já moramos juntos em Abreu e Lima, teríamos que casar no fórum daqui. Mas um primo nos deu as piores referências do casamento dele lá no início do ano e, como tínhamos comprovantes de residência em nosso nome na casa de nossos pais em Recife e Jaboatão dos Guararapes, a alternativa estava criada.

Optamos por Recife, porque a cerimônia seria realizada no Fórum Joana Bezerra. No entanto, como apresentamos comprovantes de residência em cidades distintas, tivemos que dar entrada nos proclamas em ambas. Isto significa dizer, meus queridos cinco leitores, que você e seu amor pagam duas taxas: em Recife, foi pouco mais de R$ 100; em Jaboatão pagamos quase mais R$ 90.

Essa tramitação, se você for ágil na entrega dos documentos e ir nos dois cartórios, leva uns 15 dias úteis para ficar pronto. E funciona assim: primeiro, você vai em algum cartório da cidade escolhida para o casamento com original e cópia de certidão de nascimento, comprovante de residência de ambos, identidade e CPF. Daí, o cartório pede para você pagar as taxas e voltar lá para pegar a documentação que você leva para dar entrada na tramitação dos proclamas na outra cidade.

Nós fizemos tudo isso direitinho e não tivemos problema algum. A data que escolhemos também estava livre e agendamos para 09 de setembro, o cabalístico 09/09/09.

Em paralelo a isso, nós entramos em contato com a administração da paróquia de Nossa Senhora da Aparecida - a do Corcovado - para pedir a relação da documentação que deveríamos entregar lá. Em julho, atente a isso, nós tínhamos não só essa lista em mãos, como imediatamente fomos à paróquia mais perto aqui de casa para solicitar cada um deles, com exceção dos batistérios.

E foi pelos batistérios que a falha de comunicação entre as igrejas surgiu.

Eu fui a primeira a pegar meu batistério (é preciso informar seu nome completo, dos padrinhos e a data do batizado) à igreja onde foi realizado seu batismo. A mim me cobraram uma taxa de R$20 para liberar o documento.

Meu pai foi buscar para mim. O atendimento foi bom e rápido. Só que, ao abrir o papel, vi que só havia meu nome e não o nome completo. Na hora, liguei para lá para saber se é assim mesmo. Não conformada com o "sim" deles, escaneei o papel e enviei por e-mail para o Corcovado.

Eles não quiseram aceitar. Exigiam o documento com o nome completo.

"A igreja de lá está maluca, e nós não vamos dar documento algum do jeito que eles querem porque o certo é assim", foi a resposta que obtive da igreja de cá.

No meio da briga, eu, desesperada pela primeira vez - repare que eu disse primeira vez.

Para resolver, o impasse, a Cúria do Rio foi acionada e disse que a documentação era aquela mesmo.

Graças a Deus.

Isto nos deixou tranquilos, uma vez que o batistério de Expe, em São Paulo, também estava assim (os pais dele aproveitaram uma viagem à capital paulista para passar lá e pegar o documento dele).

Por outro lado, serviu de alerta para que tudo o que fosse de documento a gente sempre mandasse pra lá escaneado para que eles nos dessem o aval (tá lembrado em que mês foi isto, não é?).

O próximo passo foi entrar em contato com a igreja daqui, onde falamos sobre o Curso de Noivos e os proclamas que ocorrem durante isso. Como haveria um casamento coletivo em agosto por aqui, eles nos pediram para entrar em contato depois disso para agendarmos o curso e falar mais sobre isso.

Foi o que fizemos. O curso foi agendado para os dias 20 e 27 de setembro para "dar tempo de correr todos os proclamas", disseram eles e para nós termos a certeza de que o tempo não iria nos pregar peças.

Na última semana de agosto, a pessoa que se comunicou conosco o tempo todo no Corcovado nos perguntou se poderíamos pagar já a taxa de R$2.100, uma vez que ela estaria de férias em setembro - mês no qual deveríamos efetuar o pagamento.

Sem problemas, dissemos, melhor porque é uma etapa a mais sendo resolvida. Transferimos o montante para a conta da nossa comadre, além de um valor para que ela fosse até lá (fica no Jardim Botânico) de táxi para pagar e pegar o recibo.

Enquanto as pendências na igreja daqui não eram resolvidas (afinal ainda não estava na data para isso, lembram?), compramos o pano para a sogra do meu irmão fazer meu vestido de noiva e o de daminha de Clara, pois meu irmão e o restante da minha família e a família de Expe nos deu a grata excelente notícia de que todos iriam para o casamento.

Foi aí que o que seria, para nós, um simples casamento, passou a se tornar um sonho.

Todos compraram as passagens, fechei a hospedagem com o Atlântico Flat Service para todos nós e ainda achamos um lugar lindo para fazer o jantar pós-casamento: o Restaurante Zozô, na minha amada Urca.

Tudo corria às mil maravilhas: o casamento no civil, o curso de noivos, a tiara que não aparecia surgiu num local inesperado, a sandália baixinha que eu queria também achei numa vitrine de um shopping, a documentação. Enfim, tudo corria para um desfeixo feliz.

Todos pareciam bastante animados para a viagem e ela chegou para nós dois, minha mãe, uma amiga de minha mãe e outra lá do meu trabalho no dia 19 de outubro.

A reta final

Hoje, eu vejo que aquele tempo feioso inacreditável e inesperado que encontramos já no primeiro dia no Rio era um sinal para as intempéries que estavam por vir. Naquela segunda-feira, eu o encarei apenas como um contratempo para curtirmos melhor a cidade. Além disso, minha mãe não apareceu no local combinado e passamos uma hora procurando por ela no Galeão, imaginando que mil coisas terríveis poderiam ter acontecido a ela. Graças a Deus, nós a encontramos sã e salva.

Fomos para o hotel.

Como o padre não pôde nos receber na segunda, agendamos para ir ao Santuário, cuja administração fica no bairro do Jardim Botânico na terça. Fomos e, na hora, eu e Expe sentimos que havia algo estranho no ar. Apesar da paz que havia no local, eu confesso ter saído de lá preocupada. Apesar de terem garantido que a documentação entregue estava tudo ok, meu coração parecia não acreditar muito naquilo.

Culpa do meu desconfiômetro. Ele está sempre ligado, pensei.

Coincidência ou não, uma diarreia se instalou em mim depois disso. E olha que eu muito raramente tenho dor de barriga que dirá isso.

Mau olhado, pensei.

Fiquei tão mal que estraguei a programação de todos e ninguém saiu do apartamento na terça-feira também.

Nervosismo? Quem sabe?

O fato é que aquele seria apenas o primeiro dia de uma diarreia que se estendeu por mais cinco dias - sim, você que fez as contas não errou: eu também estava assim no dia do casamento.

Logo depois que chegamos ao flat, o pessoal do Corcovado nos ligou. Curiosamente, apenas perguntaram qual a minha profissão e a de Expe.

Desligaram dizendo que estava tudo em ordem.

Dramática que só eu, fiquei me perguntando o porquê de perguntarem justamente isso e porque garantir que estava tudo bem. Quando algo está bem não é preciso se dizer, não é?

Começa a quarta-feira e é o primeiro dia que vimos o sol no Rio.

Pouco depois da hora do almoço, o tempo começou a fechar e isso não teve nada a ver com questões climáticas.

Estávamos nas Americanas da Nossa Senhora de Copacabana. Eu, mainha e Margarida esperávamos Expe, que estava na fila para pagar umas encomendas da mãe dele quando meu celular tocou. Do outro lado, a voz desesperada da minha cunhada.

Nunca vou esquecer o medo dela dizendo que o padre carioca tinha ligado pra paróquia aqui do bairro dizendo que estava faltando documentação.

Tentei acalma-la, mas meu coração quase sai pela boca. Liguei imediatamente pro Santuário do Cristo Redentor. Como que ratificando o que já tinha dito ao pessoal que estava aqui, o padre disse que sem aquela documentação não poderia realizar o casamento.

Vou repetir: a dois dias do casamento, o padre me disse que o casamento poderia não ser realizado.

Algum dos meus queridos cinco leitores faz ideia de como me senti naquela hora?

Eu, até hoje, tenho dúvidas se o que senti foi mais desespero ou revolta.

Desespero porque o tempo era curtíssimo e revolta porque eu tinha feito tudo com antecedência e podíamos ser prejudicados pela incompetência de alguém.

Receber a indiferença do padre naquele momento também não ajudou. Disse-me que eu tinha que ir no Santuário pegar a documentação que tinha deixado lá (aquela que eles tinham dado o "ok") e que ele sequer poderia me esperar para entregar em mãos (detalhe: nós ainda não o tínhamos visto).

Deixaria o envelope com tudo na portaria.

Indignada, jurei a minha mãe antes de sair do quarto que se isso não se resolvesse eu ia processar a Igreja , mesmo que eu fosse excomungada, e que se um dia eu tivesse um filho ele não seria criado na Igreja como eu e meu irmão fomos.

Eu, com ódio no coração, voltei para o Santuário com um desesperado Expedito do lado.

Pegamos o envelope com o vigia (dá para acreditar nisso?) e de lá corremos para a agência de Correios mais próxima. Precisávamos mandar tudo via Sedex para que chegasse aqui no dia seguinte. Colocamos o endereço de casa e a moça disse que para Abreu e Lima só chegaria na sexta.

Na agonia, corrigi o endereço e botei com o CEP lá do trabalho. "Para Recife, como é capital, chega amanhã sim. Não sabemos que horas, mas até às 17h chega sim", garantiram para a gente lá não só a menina do caixa como a coordenadora da agência.

Pagamos até mais caro por isso.

Começava, então, outra etapa: a do rastreamento do documento e da reza para que tudo desse certo.

Ligamos para o padre para avisar e pedimos para ve-lo na quinta de tarde e não na quinta à noite, como ELE queria.

Ele nos atendeu.

Mas nada acalmava meu coração.

Tive uma crise de choro quando cheguei no apartamento e minha amiga Luciana me perguntou o que estava acontecendo.

Telefonema vai, telefonema vem, todos queriam saber, afinal, o que o padre do Rio queria.

Começava o jogo do empurra.

E enquanto isso eu não conseguia parar de pensar o que faria se aquela confusão toda não fosse resolvida a contento.

Vocês não têm ideia da quantidade de pensamento ruim que passou e se alojou na minha mente. Maiores que eles somente a proliferação de promessas feitas por mim, por Expe, minha mãe e todo mundo que gostava de nós.

Eu não dormi naquela noite.

A diarreia piorou.

A menstruação chegou de madrugada.

E a insônia dominou meus nervos.

Nada me fazia relaxar.

Para piorar, na TV anunciaram que a previsão para aquela quinta-feira, véspera do casamento, era de temporal.

Felizmente, o tempo abriu.

Em todos os sentidos.

Como eu disse a quem estava junto de mim naquela manhã, quando eu menstruei eu senti que a confusão seria resolvida.

É que em todas as grandes datas da minha vida eu estava naqueles dias (primeira comunhão, formaturas do segundo grau, faculdade e pós, casamento de meu irmão, PAN, viagem a Memphis etc).

O sol que brilhava em Copacabana tinha tudo para abrandar o fogo do ódio no meu coração enquanto me encaminhava com Expe até Ipanema, onde seria o encontro com o padre, mas eu ainda estava aflita.

Não queria pensar no que eu diria as pessoas que estavam por chegar no Rio para o casamento caso o desfecho do caso não fosse aquele que a gente queria.

Antes de falar com ele, rezei um Pai Nosso e pedi a Deus para que tudo se resolvesse pois sabia que tinha deixado minha mãe magoada, preocupada e triste com o que eu dissera sobre a Igreja.

Eu não queria fazer aquilo, queria apenas resolver tudo.

Uma fila em um corredor silencioso foi o que logo vimos perto da sala do padre.

Foi horrível a espera. Sentamos em lugares separados para piorar.

Um amigo do padre estava ao meu lado. Soube porque ele puxou assunto comigo. Por pouco, muito pouco mesmo eu não pedi a ele pra intervir.

Entrou antes da gente para falar com ele.

Quando chegou a nossa vez, todos os meus sentidos estavam em alerta.

Mal ele abriu a boca, meu telefone tocou. Era o pessoal da paróquia daqui. O Sedex não tinha chegado. Os Correios daqui disseram que a previsão era de chegar na sexta, pelo horário, depois que todos da minha família já tivessem embarcado para o Rio.

Não os ouvi mais depois disso, passei direto para o padre.

A frase dele mostrava que ele tinha ciência do que passava na minha cabeça.

"Nós temos que resolver isso dentro da própria igreja, porque o casal está se sentindo lesado."

Pronto. Havia esperança.

O que ele falou a seguir me deixou mais tranquila: "Eles são jornalistas e isso um casamento no Corcovado dá muita visibilidade."

Ele sabia. Sabia exatamente, jovem e moderno que era, do que nós seríamos capazes de fazer.

Quando desligou o telefone, disse que daria um jeito de nos casar e até falou de acionar o Tribunal Eclesiástico por conta do erro da igreja daqui.

Tive vontade de ligar para todos na mesma hora, mas mantive a calma.

Como? Eu realmente não sei.

A solução era a igreja daqui encaminhar uma documentação paliativa para que o casamento fosse realizado e depois enviar o que faltava para que o casório não fosse anulado.

Achando que o último problema tinha sido resolvido, fomos todos comemorar na Confeitaria Colombo naquela noite.

Estávamos enganados.

As fortes emoções mal tinham começado...

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3 Comentários:

Blogger GGUEDES disse...

Como assim as fortes emoções ainda não acabaram,Gil???
Afe, eu não teria tido a calma que vc teve. Não mesmo.Parabéns pela calma para resolver tudo!

Beijos.

6 de dezembro de 2009 às 22:35  
Blogger dea disse...

Tu é paciente, vu?
Ou eu já tinha esculhambado todo mundo ou tinha tido um treco fulminante!

8 de dezembro de 2009 às 14:37  
Blogger Helga disse...

Eu to tendo um treco fulminante só de ler.....
To curiosíssima, embora saiba uma boa parte da história pelo blog da Telinha, mas seu relato está emocionante, não demora pra contar o resto, não!
beijos

8 de dezembro de 2009 às 17:05  

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