Havia época na qual havia um aparelho de som só para mim, outro só para o meu irmão, outro na sala e outro no quarto dos meus pais.
Poucos artistas eram unanimidades.
Uma delas era Luiz Gonzaga.
Meu pai, principalmente, tinha nele o grande ídolo da música.
Quando aquele 2 de agosto começou, há exatos 20 anos, a primeira coisa que painho me falou quando eu acordei foi que Gonzagão tinha morrido.
Painho não é do tipo que demonstra carinho muito facilmente, vi o quanto ele estava triste e me condoí.
Assim como acontecera quando da morte de Clara Nunes, em1983, o rádio foi ligado para se ouvir apenas as músicas dele.
A TV noticiou que o velório seria na Assembléia Legislativa do estado, ao lado do meu amado GP, ali na Rua da Aurora.
Estávamos em semana de provas.
Cheguei cedo na escola e já na hora de descer do ônibus vi o quanto a movimentação de pessoas estava maior naquele dia. Todos pareciam seguir em procissão silenciosa até a Assembléia.
A fila chegava às calçadas do prédio.
Alunos do GP também estavam por lá para ver o corpo do Velho Lua.
Mas nada disso me fez ver o quanto aquele dia era grande.
Foi o relato do meu pai, à noite, emocionado, contando como ele acompanhou o cortejo - primeiro com o carro da firma onde trabalhava e depois a pé - da Assembléia até o aeroporto.
Eu tinha tido uma tarde feliz e me senti culpada por isso quando o vi triste daquela forma.
Nem sei se ele lembra que dia é hoje, o sistema de autodefesa dele faz com que ele apague ou pense apagar certas coisas para evitar sofrer.
Para mim, Gonzagão, além de tudo, tinha feito de bom também Gonzaguinha.
Uma homenagema aos dois então é mais do que necessária hoje.